Rodrigo Oliveira @Filomena Soares |
30.3.12
29.3.12
28.3.12
27.3.12
Art me up | (um texto de Eugénia Vasconcellos)
LOCK ME SAFE-SET ME FREE
Da Casa dos Segredos, de Ana Vidigal, já li que era uma escultura, uma instalação e ambas. Deixo isso para quem disse. Mas a afirmação da construção através da desconstrução de um espaço pelo realinhamento de cacifos forrados, acima, de espelho, da manipulação da luz e da circulação, não chega para descrever o que encontramos quando entramos no átrio do IST. A ser um conceito tangível, da ordem do da escultura, do da instalação, a Casa dos Segredos é um verbo no gerúndio, o único tempo que serve à fénix, ao que principia e acaba para principiar, ao contínuo humano – ao labirinto.
A Casa dos Segredos é a narração de um processo, narração feita com os recursos disponíveis no local — uma economia razoável, sensata e, predominantemente, doméstica. Nada que seja incomum nos trabalhos de Ana Vidigal. Ou melhor, é um traço distintivo neles — não há equívocos nesta transformação que actua fora como dentro: de um casaco se faz uma saia; das sobras de uma refeição outra; de mil livros lidos se escreve um inédito; de uma fotonovela faz-se uma situação numa tela. Da casa que se atravessa, faz-se o mundo por onde se caminha: labirinto é o processo de transformação de uma coisa num outro si mesmo, um centro de ser que se expande
Talvez este seja o mais tradicionalmente feminino trabalho de Ana Vidigal – o que não deixa de ser interessante como recorrência nos termos interpretativos do lugar da mulher, do conflito e da pacificação dessas posições. Talvez por isso esteja ostensivamente no átrio de um mundo tradicionalmente masculino, o IST. Logo, e paradoxalmente, é feminista. Não por contestação, por confirmação. Estamos aqui. Outro traço distintivo: a presença da dualidade, feminino-masculino. Adiante mais. E a intervenção, deveria dizer a feminização do espaço, radical: a Casa dos Segredos é, antes de ser outra coisa, uma caixa de caixas, a maior cuja tampa é a clarabóia, luz de fora filtrada para dentro, como no tempo da infância de Ana Vidigal, onde se fez pessoa, quando era através do homem fora que o mundo chegava à mulher dentro, casa-caixa-contentor de si e continente de outros, um mundo e outro mundo. As paredes erguidas tais muralha, caixas-cacifos, modo vertical de actuar, assumpção do modo masculino pelo feminino, ir ao mundo fora, levando o mundo de dentro. Um mundo e outro mundo num só mundo, uma das paredes caiu, dentro prolonga-se para fora, e fora cresce para dentro, o continente somos eu e tu, à vez. Dentro dela, a casa, nomeada na parede pelo lado externo, qual villa onde se habite: Casa dos Segredos. E este é o seu maior segredo, à vista de todos, o segredo do movimento dos tempos no tempo: este mundo masculino já é feminino, estamos aqui, diz a voz de uma mulher. O segredo é possível?
A Casa dos Segredos terá sido um reality show à semelhança de um Big Brother — o jogo de sedução de Godard quando pisca o olho ao público. A parede caiu. Da coincidência de programa e intervenção, entra-se na evidência: o espaço privado no espaço público. As tais mais dualidades acima prometidas. Ou se preferirmos, o espaço do voyeur no lugar do exibicionista: faço para que vejas, mimética proustiana, vejo para que faças. Outro traço distintivo que aqui recorre: humor, provocação, mise-en-scéne, espelho de nós, caricatura encenada. Mas existe ainda a privacidade? O lugar íntimo no tempo do chip, do gps, do FB, quando ser é comunicar que se é? A parede caiu. E, não de somenos, há também o lugar do objecto e do atributo, sintomas: sinais identitários do ser e do fazer, profissão, crença, hobby, casado, solteiro, rico, triste, aplicado, solitário, popular, fechado a segredo cadeado, a segredo solitário por entre a gente, exposto para ser visto, e exposto até à invisibilidade: lock me safe-set me free.
Mais outro traço: a repetição e a super-abundância, no caso a da mesma ideia em formas iguais e diferentes para mais completamente a explorar. Uma caixa dentro de outra caixa dentro de outra caixa. Cacifo, cacifo, cacifo, cacifo, cacifo. Acima e abaixo cacifos, caixas sobre caixas. Luz de clarabóia sobre os espelhos e devolvida para fora, de fora para dentro, de dentro para fora, outra vez, de outra maneira. Estamos aqui.
E, finalmente: buraco no tronco da árvore de Alice, caindo, entrando no labirinto, se transita do público-privado, aberto-fechado, para o eu persona-eu comigo, e um fio inteiro para me encontrares, a mim Ariadne, não à saída, não ao outro ao meu lado, igual a mim pelo lado de fora, a mim, indivíduo único, para me encontrar a mim mesmo, e para ser, individuação, ser em caminho, caminhante — em relação, em situação, no tempo. Outro traço distintivo: o diálogo, a dinâmica pessoalíssima de um processo criativo, não a dinâmica para uma resolução.
É pelos traços distintivos, que bom, porque compõem uma específica linguagem assinada, que podemos dizer: é da Ana Vidigal.
* solitário por entre a gente…, de Camões in O AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER
26.3.12
25.3.12
24.3.12
22.3.12
21.3.12
20.3.12
(coisas do) pastoreio
Equânimo café da manhã
Que faríamos nós de nossa vida tão pura?
C.L.
Que faríamos nós de nossa vida tão pura?
C.L.
Adoro muesli pela manhã.
Como explicar a inesperada
alegria do coco?
doçura tão súbita que atravessa
toda a dormência da língua & etc.
Detesto a aparição do verme
na fruta de cada dia.
Irrompe feroz o anúncio da podridão
Ri e ri e rindo sacode
toda a dormência da superfície.
Agradeço estas duas surpresas
& a diferença entre elas
alegria do coco?
doçura tão súbita que atravessa
toda a dormência da língua & etc.
Detesto a aparição do verme
na fruta de cada dia.
Irrompe feroz o anúncio da podridão
Ri e ri e rindo sacode
toda a dormência da superfície.
Agradeço estas duas surpresas
& a diferença entre elas
19.3.12
18.3.12
16.3.12
15.3.12
14.3.12
13.3.12
12.3.12
11.3.12
10.3.12
Começou a montagem da "Casa dos Segredos" @Instituto Superior Técnico
9.3.12
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