"Abri
as portadas do atelier e a fria manhã de outubro gelou-me as mãos. Da rua tinha
visto as folhas amarelas dos “copos de leite”, resultado de muita água da
ultima semana. Agacho-me. Com cuidado procuro os caules moles e arranco-os. As
chuvas limparam a poeira e as folhas, nas estreitas varandas de há dois séculos,
parecem frondosas plantas tropicais, coisas de Jardim Botânico.
Não
passam de “copos de leite” tratados com carinho. “Tudo o que o amor toca
torna-se frondoso”, disse a padeira enquanto me embrulhava um pão de mistura
ontem à tarde sem eu bem perceber porquê. Jardinar,
mesmo em varandas estreitas faz-me sentir dona da terra. Que
espera ansiosa pela floração invernosa, para em ramos florir as jarras da sua
amada."