“As
Desgraças da vida, são a alegria da arte”
Take 1
Obladi
obladá, era a época do gelado Rajá.
Nasci
no nº15 da Avenida António Augusto de Aguiar a 6 de Agosto de 1960 e a coisa
mais radical que fiz nessa década foi receber o Prix de Turbulence no Liceu
Francês Charles Lepierre, ainda as Amoreiras eram mesmo para apanhar as folhas
que alimentavam aquelas lagartas que tínhamos em caixas de sapatos e que eram
os únicos animais que a minha mãe permitia que coabitassem connosco. Os
bichos-da-seda.
Já
nessa altura dizia que queria ser pintora talvez por ter sempre à mão canetas
de feltro, lápis de cor, de cera e lapiseiras (uma infância Caran D’Ache…).
Nunca
gostei de aguarelas e tinha queda para os guaches que espremia com especial
gozo.
Apaixonei-me
por uma tesoura mais ou menos por volta de 1967 e até hoje ela tem sido a minha
mais fiel companheira (só a traí em 1998 quando resolvi fazer uma exposição sem
uma única colagem. - não gostei da infidelidade.) Lembro-me de recortar a
Jackie Kennedy das páginas do Paris Match e acho que foram essas as minhas
primeiras colagens
Para
ver se ganhava algum prémio de jeito ou domar a minha indisciplina passei a frequentar
o colégio ao lado, o Externato do Parque das Irmãs Doroteias onde passei então
a década de 70 a fazer desenhos tipo “Amor é” e naturezas mortas psicadélicas,
influência do grafismo da época e da leitura voraz da revista “Schoner Wohnen” (o
meu período Rotring…)
No
dia 25 de Abril de 1974 não percebi muito bem o que estava a acontecer. Mas calculei
que a coisa não fosse má, pois a televisão mostrava muita gente bem disposta
nas ruas e eu sempre gostei de festas.
Mas
não saí de casa, vi a revolução pela televisão a preto e branco, de robe aos
quadrados escoceses, um pouco estupefacta com tanta gente sorridente,
“Chaimites” e G3 com cravos.
O
meu percurso político também é um pouco peculiar, venho da direita para a
esquerda, o que não é de estranhar, pois nenhuma adolescente desinformada como
eu era, gosta de um dia para o outro perder privilégios.
Mas
rapidamente percebi que me tinha saído a “Sorte Grande” e li tudo o que me
apareceu à frente.
Passei
da “Colecção Azul” às “Novas Cartas Portuguesas” enquanto o “diabo esfregou um
olho.”
Tão
depressa como passei dos rios de Angola à Revolução Cubana cheguei aos anos 80.
Entrei
na ESBAL em Janeiro desse mesmo ano e percebi que tinha começado a minha vida
de adulta.
Take 2
Obladi
obladá já não há gelados Rajá.
“Travelling”,”
Peeping Tom”, “Mary Smith born in 1989”, “Notorius”, “Tous les chiens de ma vie”,
“Phoenix, Arizona”, “O telefone acordou-a às 5.30 da manhã”, “Coats and Clark”,
“Casual”, “Besoin d’une jolie fille pour mercredi”, “Insípida”, “Os domingos
passaram a ser dias suportáveis”, “Este ano o tempo é que se atrasara, mas eles
eram pontuais”, “Elisabeth Alione teve um estremecimento”, “Trois chiens
rouges”, “Imbecil”, “ La vengence d’ une blonde”, “Bad day at Black Rock/ Vera
Cruz (sessão dupla) ”, “Estrada 175 Norte”, “Cianeto”, “She was a visitor”,
“Quebec”, “Peneirenta”, “Pick my box”, “Entre mim e os meus botões”,”Sonso”,
“Finalmente”, “ Um, dois, três macaquinho do chinês”, “Aborrecida”, “Bavarder”,
Mr and Mrs Donuts”, “Glum”,
“Sem
título – colagem”, ”Top hat”, “ Branca de Neve I”, “Branca de Neve II”, “Branca
de Neve III”, “Inconfidência”, “Orgulho e preconceito”, “Pourquoi faire simple,
quand on peut faire compliqué?”, “Austrália”, “ To have or have not”, “
December the coolest Month”, “I’ve never expected you to come”, “A glimpse”,
“Still”, “Colecção Cinema”, “By friends and enemies alike”, “Beija-me idiota”,
“Ménage à trois”, “Woman’s work is never done”, “Ao lado de uma menina limpa há
sempre uma menina suja”, “Tudo isto e o céu também”, “Madalenas”,”A minha
desordem é o meu capricho”, Inaparente”, “Para antes do esquecimento”,
“Enquanto Tarzan dormia”, “Super Pop”, “ A maravilhosa tendência para o
desastre”,”Janela indiscreta”, “Unforgiven”, “She”, “Ouça-a”, “Acabo de cair da
bicicleta”, “Sou uma pessoa pouco sociável”, “Uma rapariga turbulenta”, “Mas”,
“Coração Burro”, “El dolor de Lolita”, “Tornei-me feminista para não ser
masoquista”,”Acredito ter mãos, acredito ter boca, quando só tenho patas e
focinho”, “É – me”,” Agora és minha”, “Não pretendo respostas inteligentes para
tudo”, “Nada a fazer”, “Nada a dizer”, “Nada a acrescentar”.
Pinto
há 26 anos, a última pintura que fiz chama-se, “ O treino da generosidade”
Ana
Vidigal
Dezembro 2007