O trabalho que Ana Vidigal
apresenta nesta edição do ARCO 2012 é o resultado de uma pesquisa efectuada
pela artista para o tema “Provisions to the Future” ( projecto elaborado para a
Bienal de Sharjah 2009) e que a artista tem vindo a desenvolver posteriormente.
Especificamente, Vidigal
recolhe imagem nas mais diversas situações, em jornais que lê, em revistas de
salas de espera de consultórios, em bandas desenhadas dos anos 40 herdadas de
familiares ou em livros infantis que as sobrinhas já não querem. Vidigal
aproveita assim o “resto” dos outros e guarda-o como “provisão” para o seu
trabalho futuro.
Em todos estes casos Vidigal não
procura as imagens. Elas vão surgindo no quotidiano da artista, que se
identifica com elas em primeiro lugar pelo aspecto formal. Essa recolha é, como
já foi dito, desprendida de qualquer significado emocional. A artista, como uma
respigadora, vai armazenando essas imagens ficando elas guardadas dentro de
caixas durante muito tempo.
No trabalho apresentado, um
tríptico de grandes dimensões é bem patente esse método de trabalho. Partido de
uma imagem rectangular de diminutas dimensões, Vidigal retira-o do seu contexto
de revista cor -de- rosa (elementos da baixa cultura que Vidigal sempre gostou
de “elevar” para outro patamar) e da secção “descubra as diferenças”,
digitaliza-o e imprime-o sem qualquer alteração formal, em grandes dimensões.
É só depois de alienada a
escala que Vidigal intervém. Com subtis colagens e delicada intervenção
pictórica. Só visto de perto nos apercebemos dessa intervenção. É esse o jogo.
Descobrir o que é verdadeiro ou do que é falso (da imagem original). A escolha
dos títulos é neste projecto (e especificamente neste trabalho) fundamental. É
através dos títulos (também eles respigados) que Vidigal nos insere no “seu”
tempo actual.
Não sendo um trabalho rigorosamente
autobiográfico, Vidigal diz sempre que trabalha sobre o Tempo, ele remete a
curiosidade do espectador através de todos estes processos para a história que
a artista nos quer contar (ou ficcionar sobre o “seu” tempo)
E este é o tempo de
“Melancolia, the baffled women”
Apresenta também obras da Serie: "À Cautela"
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