3.1.16

"nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente /além/ de qualquer experiência ,teus olhos têm o seu silêncio:/ no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,/ ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado/ perto/ teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra/ embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum/ lugar/ me abres sempre pétala por pétala como a Primavera/ abre/ (tocando sutilmente, misteriosamente)a sua primeira/ rosa/ ou se quiseres me ver fechado, céu e/ minha vida nos fecharemos belamente, de repente,/ assim como o coração desta flor imagina/ a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;/ nada que eu possa perceber neste universo iguala/ o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura/ compele-me com a cor de seus continentes,/ restituindo a morte e o sempre cada vez que respira/ (não sei dizer o que há em ti que fecha/ e abre; só uma parte de mim compreende que a/ voz dos teus olhos é mais profunda que todas as/ rosas)/ ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão/ pequenas"

(tradução do poema de e.e. cummings,  Augusto de Campos)